20 horas esperando socorro
Ele ficou 20 horas esperando socorro – doze horas em cima do telhado, quatro dentro de uma lancha e mais quatro em um asfalto
Odair dos Santos de Oliveira, natural de Linha Ceccon, interior de Barros Cassal, entrou em contato com o Jornal Serrano para partilhar com os conterrâneos momentos de tensão e incertezas vividos por horas em cima do telhado da casa, no Bairro Rio Banco, em Canoas, situação vivenciada por muitos gaúchos nos últimos dias.
Disse Inicialmente que viveu muita tensão, fome e exaustão, mas a incerteza era o maior sentimento, pois o resgate priorizava as crianças, gestantes, idosos e mulheres. “Acho que é o certo, mas ai você fica ali vendo a água subir sem saber se vai ser resgatado a tempo, gerando muita incerteza”.
Na sexta-feira, sua esposa Márcia passou na escola, pegou os dois filhos, de 8 e 13 anos, e foram para o Bairro Fátima, onde reside sua mãe.
Odair ficou em casa de certa forma despreocupado, porque o bairro dele nunca foi atingido por enchente, mas estava com medo de sair e que saqueassem sua casa. “Mas rompeu um ‘Dick ‘no Bairro Mathias Velho, tipo uma barragem, na verdade é um enorme reservatório de água da chuva, sendo este, o causador de tamanha tragédia, que atingiu também todos os bairros arredores”.
Seguiu falando: “Ninguém nunca está preparado para este tipo de situação, e do nada, a água começou a subir entrar nas casas sem que tivéssemos tempo de pegar o carro e sair para algum lugar. Se instalou um desespero muito chocante, subi no telhado, o que a maioria das famílias fizeram. Só se ouvia grito das mães, filhos, idosos, todos desnorteados gritando pedindo socorro. Era assustador. E tu não tem como descer e querer salvar alguém, pois não teria além de um telhado para oferecer, e isso eles também tinham”.
Em cima do telhado ele escutava as batidas dos móveis e demais utensílios batendo de um lado pro outro dentro de casa. “Era agonizante. Acho que não teremos como aproveitar nada, nem carro, nem moto, tudo que tínhamos ficou embaixo d’água”.
Ele ficou doze horas em cima do telhado, quatro dentro de uma lancha e mais quatro em um asfalto, em alguns momentos questionava: “como pode, Deus ser tão bom e tão ruim, há cinco minutos tínhamos tudo, e de repente não tínhamos nada? Sai com 19 anos de Barros Cassal, só com o dinheiro da passagem, foram mais de 20 anos de trabalho destruído em minutos. Daqui a pouco pensava:” Não é Deus que faz isso é o próprio homem que destrói tudo, e como não tem um planejamento habitacional, quem mora próximo a rios, barragens, reservatórios d’água, arroios, entre outros, um dia vão ser surpreendidos pela natureza que vem buscar seu espaço”.
Ele e um vizinho pegaram uma lancha de um outro vizinho pra se proteger, no entanto a lancha não tinha combustível nem bateria, mas como os telhados estavam ficando inundados, puderam se manter dentro até chegar um socorrista de jet-ski que atirou uma corda os rebocando até uma estrada. “Estava com fome, exausto, mas o asfalto era um lugar seguro, onde pude dormir até vir novo resgate, me levando para o local onde estamos abrigados”.
Falou que sente revolta pela falta de manutenção destas estruturas que fazem o armazenamento das águas da chuva. “Os municípios não tem uma verba guardada para este tipo de situação. Em 2009 até 2016 tinha uma reserva para inusitados naturais, mas depois isso acabou e nossa sorte é que as pessoas se solidarizam muito. E estamos aqui pensando o que será de nossas vidas quando voltarmos para casa, a qual nem sabemos se estará no mesmo lugar”.
Seguindo seus relatos, ressaltando que por mais tristes que estão com toda esta situação, estão gratos porque ninguém ficou ferido, todos da família vivos. “Não temos como não agradecer!”.
Disse que poderia citar muitas passagens triste, mas uma que chocou muito foi a de um helicóptero que se aproximou de uma família que tinha crianças, quando chegou perto levantou parte do telhado com o vento e um cãozinho caiu sendo imprensado entre as telhas, e a família olhando desesperada, mas precisando se salvar. A vida desafiava a todos”.
Como ajudar
Ele sugere que quem puder ajudar que envie doações e valores para ULBRA que é uma entidade séria, a qual está levando alimentos para eles, inclusive, Os alimentos e demais doações que chegaram para eles venho de Criciúma. “O que mais estamos precisando é comida, água, o básico que não tem mais como conseguir na cidade. E mais não precisamos nada por enquanto, pois estamos morando em seis de favor num apartamento emprestado”.
Sobre Odair - ele é técnico de manutenção e foi embora de Barros Cassal há 23 anos, e disse com orgulho que vem frequentemente para Barros Cassal, Linha Ceccon.
Ficamos de fazer nova reportagem quando puder ir para casa saber qual a situação, momento que irá pedir ajuda para poder recomeçar com sua família.
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